sexta-feira, 18 de março de 2011

O melhor momento...



Os fardos que carregamos, do que são fruto? As situações constrangedoras que vivenciamos, por que se manifestam? As lutas, no que se baseiam? As perguntas e perspectivas, de onde vêm? O que fazer, quando tudo se desfaz?

Afirmamos a vida por suas qualidades. Mas o que vem a ser a vida? Afirmamos os prazeres e alegrias do mundo, mas habitamos reinos diários de medo e insegurança. Pisamos um chão que treme.

Temos olhos, mas o que estamos observando? Temos ouvidos, mas o que estamos ouvindo? Uma boca, sobre o que estamos falando? Vivemos num mesmo planeta, mas muitas são nossas moradas.

Entretanto, mal podemos sair de nossas frágeis fortalezas. Vivemos em uma sociedade urbana, planejada para dominar, controlar, assegurar, reter. Nossa economia é uma de saque. Somos ricos miseráveis e nos comportamos gananciosamente, mesmo quando falamos por muitos.

O Anticristo não é uma pessoa. O Anticristo é o apego. Não fomos expulsos do paraíso, mas o perdemos porque nos perdemos. Pensamos estar livres, mas apenas caminhamos pelos corredores da prisão.

As informações que nos chegam contam sobre um mundo em pane. Os ecossistemas que sustentam a vida estão em frangalhos. A fantástica promessa do messianismo tecnológico nunca se cumpriu, mesmo no Japão.

O mundo aparece tremendo, e irrompe vulcânico para nos despertar de nosso sono profundo. A sensação de paz é um breve intervalo entre confrontos. Os problemas rugem com uma desconcertante fúria titânica. A morte aproxima-se de quem amamos.

Recorremos uns aos outros – o que fazer? Nos momentos de crise, os pontos de mutação, encontramos o melhor e o pior de nossa humanidade básica. E quem poderia nos salvar de nós mesmos? E onde mais poderíamos ir para nos guardar de nossas confusões?

Nossas respostas são condicionadas pelo tempo, pelo espaço, pela cultura. Nossas respostas são condicionadas por visões e perspectivas. Podemos aprender uns com os outros? Podemos despertar para as necessidades de nossos inimigos e desconhecidos?

Nunca é tarde demais, pois o tempo é nosso refém. E se nos aparece que o tempo urge, não seria mais preciso lembrar que nos urgimos o tempo? Entretanto, mal conseguimos parar, pois nos condenamos a preencher o espaço. Somos redutores da amplidão.

Podemos desistir das coisas e mesmo das pessoas e até de nós mesmos. Mas como desistir do que somos? Carregamo-nos mesmo em nossos suicídios, pois a morte não representa aniquilação. Não podemos fugir de nossas consciências, e da clareira de onde ela brota.

Nossas preocupações condicionam nosso dia, mas não sabemos nada sobre a natureza delas. Não procuramos conhecer suas causas, ver como somos fisgados por elas, observar como tingem nossa percepção da realidade, maculando todas as nossas relações.

Os problemas do mundo são os problemas que vemos do mundo, e que causamos através de nossa participação de formiguinha. É admirável que este mesmo mundo apresente as soluções, e que tenhamos em nós, individual e coletivamente, as inteligências necessárias para compreendê-lo.

Compreender o mundo é um processo de auto-conhecimento, pois onde começa o mundo senão em nós mesmos, em nossa subjetividade pessoal e coletiva. A solidão é uma miragem. A distância, uma ilusão. A separação conceitual e política é desafiada e transcendida pelos influxos da interdependência básica, que nos une, reúne e transcende.

Este é o melhor momento.



(Breno Xavier)

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